Quem é Neil Diamond? Um cantor de rock? De pop? Folk? Country? Nem ele sabe ao certo. "Eu não me encaixo em nada", diz. Mas, de Sinatra a UB40, todo mundo já gravou ou quer gravar alguma de suas canções.

ENTREVISTA COM NEIL DIAMOND - The Rolling Stone Magazine 1988

Neil Diamond está sentado em seu elegante escritório em Los Angeles, saboreando um biscoito dinamarquês e especulando sobre sua profunda falta de jogo de cintura. Está relembrando a noite em que, há mais de um década, quando dividiu o palco no Band's Last Waltz Show com artistas superchiques como Bob Dylan, Joni Mitchell, Neil Young e Van Morrisson. Quando chegou sua vez no palco, Diamond cantou uma emocionante versão de Dry Your Eyes - música que ele e o líder da Band, Robbie Robertson, escreveram para o álbum Beautiful Noise, de 1976. Então, olhe só, um dos mais populares cantores do universo musical e todos pensam: 'mas o que é que Neil Diamond está fazendo aqui?'"


Eu não me encaixo", diz Diamond, 47 anos, antes de interromper um largo sorriso. "Mas você pode me colocar em qualquer show que eu não me encaixarei. Você me coloca em um show de rock e eu não me encaixo. Me coloca em um palco com Sinatra e eu não me encaixo. Eu simplesmente não me encaixo... Desculpe-me, peço desculpas a todos. Mas nunca tentei me encaixar, porque isso pressupõe estar de acordo com certos rótulos... O último grupo a que eu me lembro de ter feito parte foi dos escoteiros. Ainda assim, fui expulso porque não pagava as taxas. Portanto, acho que você poderia dizer que eu sempre segui meu próprio caminho".


Este tem sido um caminho fantástico e intrigante. Neil Diamond nasceu no Brooklyn, Nova York, em 24 de janeiro de 1941; seus pais, Kieve e Rose Diamond, foram da primeira geração de norte-americanos descendentes de russos-poloneses. Ele passou a infância no bairro operário do Brooklyn. Uma visita de Peter Seeger ao seu acampamento de verão motivou o jovem Diamond, então com 15 anos, a se interessar em compor canções. No primeiro ano ele foi transferido da Erasmus Hall High para o Abraham Lincoln High, onde estudaram cantores como Neil Sedaka e Carole King.


Ao imaginar sua primeira canção (do álbum da dupla Neil e Jack, inspirada no duo Everly Brothers), logo após se formar no colegial, Diamond foi para a New York University, onde se mostrou um aluno muito habilidoso. Faltando apenas 10 créditos para completar sua graduação, em 1962, caiu fora para um estágio de 15 dólares por semana como compositor na Sunbeam Music, uma pequena editora. Ele próprio admite que lutava contra um sentimento de derrota por escrever para outras pessoas, até que, um dia, em 1965, por meio de Ellie Greenwich - que mais tarde, com o então marido Jeff Barry, escreveu clássicos como Da Doo Ron Ron, Leader of the Pack, Be My Baby e Then He Kissed Me - foi sondado pela Gil-Pincus Music para cantar uma de suas canções."


Quando ele estava me ensinando a canção, pensei 'Ei, esse cara realmente tem um som interessante''', disse Greenwich. "Adorei suas canções. E Jeff adorava como ele as cantava. Então, pensamos 'tem mais aqui do que podemos fazer por ele'". Com a ajuda da dupla, Diamond rapidamente assinou um contrato com o recém-criado selo Bang. Diamond achava seu nome verdadeiro sem graça e por pouco tempo considerou chamar a si mesmo Noah Kaminsky ou Eice Cherry. Contornado o problema, Diamond logo estava emplacando sucesso após sucesso, que inspiraram turnês como Cherry Cherry, I Got the Feeling, You Got to Me, Girl, You´ll Be a Woman, Soon e Kentucky Woman.


De repente, as pessoas começaram a fazer covers das músicas de Neil Diamond. I'm a Believer e A Little Bit Me, a Little Bit You tornaram-se grandes sucessos que fizeram a fama do The Monkees e, atravessando o Atlântico, de artistas como Cliff Richards e Lulu, que estouraram nas paradas de sucesso com canções de Diamond. As relações entre Diamond e a Bang começaram a fazer água quando o criador do selo, Bert Berns, não quis gravar Shilo - uma canção apontada como uma tentativa do autor de se mover em direção a uma linha mais introspectiva e séria - como um compacto. Em 1968, Diamond assinou com a gravadora Uni. E logo após seus primeiros álbuns pelo novo selo, vemos Diamond fazendo experiências, algumas vezes com sucesso, outras não (como a estranha canção antidrogas The Pot Smoker's Song). Os sucessos continuavam, Sweet Caroline, Holly Holly, Soolaimon, I Am... I Said, Song Sung Blue e Play Me.


Em 1972, Diamond gravou Hot August Night - um dos mais populares álbuns ao vivo de todos os tempos - no Greek Theatre, em Los Angeles (Diamond mudou-se para a Costa Oeste em 1969, onde mora até hoje com sua segunda mulher, Marcia). Nesta época, Diamond - que Greenwich descreve como terrível, nervoso e rígido, já naqueles primeiros dias - havia estado em uma turnê empolgante. Em 1973, a gravadora Columbia assinou com Diamond um dos mais lucrativos contratos até aquele tempo, que lhe garantia mais de 4 milhões de dólares por dez álbuns. Curiosamente, Diamond escolheu aquele momento para iniciar um período de licença que durou cerca de três anos e meio nas turnês. Ele passou mais tempo com a família, entrou em um período de instrospecção psicológica e espiritual e trabalhou na trilha sonora da versão para cinema do livro Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach. O filme foi espinafrado pela crítica e um fracasso de bilheteria, mas a trilha sonora foi um sucesso, vendendo mais de 10 milhões de cópias.


Em 1975, Diamond aproximou-se de Robbie Robertson, seu vizinho em Malibu, para produzir seu próximo álbum em estúdio. O resultado dessa parceria improvável foi Beautiful Noise, um tributo musical aos seus dias em Tin Pan Alley que recorda seu melhor álbum. "Acho que esse primeiro disco foi demais", disse Robertson sobre Diamond. "Ele fez aquelas melodias que não saem da cabeça. E, algumas vezes, tinha o agravante de que você não conseguia largar aquelas canções, e isso prova o quão contagiante elas realmente eram... Minha teoria é a de que havia um vácuo entre Elvis Presley e Frank Sinatra. E lá estava aquela enorme audiência. Ele provavelmente conseguiria vender mais lugares que Bruce Springsteen, sabia? E não é por causa do suingue. É porque existe um público lá fora que precisa disso". Desde Beautiful Noise, Diamond tem, cada vez mais, deixado de ser tão radical, tornando-se parte principal das programações de rádio e emplacando sucessos ocasionais. Fez também parte da trilha sonora do filme The Jazz Singer, de 1980, em que Diamond atuou ao lado de ninguém menos que Laurence Olivier. Algumas vezes Diamond foi taxado de roqueiro de araque - em alguns casos, merecidamente - mas sua legião de fãs nunca ligou para isso. Se os críticos têm menosprezado suas canções - freqüentemente de forma injusta - Diamond dá o troco: foi gravado por todos desde Sinatra até UB40, Presley e Deep Purple. E ainda que seus álbuns não tenham vendido da mesmo forma que antes, sua fenomenal turnê S.R.O, entre 1986-87, (registrada no álbum Hot August Night II) prova que ele ainda é um incomparável artisa. De volta aos velhos dias do selo Bang, Neil Diamond escreveu uma música chamada The Non- Conformist Marching Sound. E, para o bem ou para o mal - o suingue que se dane - ele tem ido em direção à sua própria essência, desde então.


O tema solidão - vida solitária - é constante em suas canções. Shilo, por exemplo, fala sobre o amigo imaginário de uma criança. Particularmente, você foi uma criança solitária?

Assisto aos filmes de 8mm feitos por meu pai quando era criança e o que vejo é um garoto tão feliz quanto qualquer outro. Tinha meus pais, meu irmão, quando estava chateado, sempre podia bater nele (risos). Talvez eu tivesse uma pequena tendência a me isolar e fazer minhas próprias coisas... freqüentemente me perguntam se tive uma infância solitária, se Solitary Man não teria sido minha primeira gravação autobiográfica. Talvez eu estivesse me sentindo solitário naquele dia ou, talvez, apenas tivesse gostado do jeito que as palavras soaram na melodia.

O tempo que você passou no oeste dos Estados Unidos quando criança influenciou sua música?

Acho que Cheyenne teve uma grande influência sobre mim. Foi lá que comecei a adorar os cowboys. Isso porque eu sempre achava que era um deles. Eu era um cowboy do Brooklyn (risos). Sempre adorei as músicas dos filmes de cowboys. E nas capas de trás das histórias em quadrinhos tinha aqueles anúncios onde os garotos podiam ganhar brindes se você vendesse suficiente número de cartões de aniversário. Meus olhos sempre eram atraídos para o violão - sempre tinha um cara sobre um cavalo com um chapéu de cowboy e violão.

É verdade que foi uma visita de Peter Seeger ao seu acampamento de verão que o inspirou a compor?

Sim, o Surprise Lake Camp. Era um acampamento bem liberal. Nós tínhamos ido para uma reunião de inverno no Surprise Camp e Peter Seeger veio e tocou para a gente. Alguns garotos tocaram para ele, todas canções sobre causas importantes, você sabe, aquelas causas que fazem sentido para garotos de 14 anos. Foi a primeira vez que me toquei que tínhamos escrito canções. E acho que fiz só para me divertir. Não teve nada do gênero 'Opa, essa pode vir a ser minha vida´.

Uma antiga gravadora afirma que você, quando tinha 10 anos, formou um coral chamado Memphis Backstreet Boys e fugiu de casa.
Essa história foi feita pelos caras da Bang. Acho que eles precisavam construir uma história interessante sobre Neil Diamond. Olha, o que eles queriam era alguém como Bob Dylan e Van Morrisson, sacou? Mas o que tinham era um garoto judeu do Brooklyn e não achavam isso interessante. Portanto, acrescentaram algo mais.

Qual seria a razão de tantos popstars dos anos 60 terem vindo de colégios do Brooklyn? Era alguma coisa na água?

Todos os garotos que estudam no Brooklyn aprendem que George Gershwin nasceu lá e tornou-se um respeitado músico em todo o mundo. Assim, existe essa tradição. Além disso, aconteceu que alguns adolescentes geniais foram morar lá. Era como uma panelinha, as pessoas competindo umas contra as outras. (Neil) Sedaka veio e cantou sobre meu colégio e foi demais. Mas porque o Brooklyn? Antes de tudo, acho que era uma maneira de cair fora.

Como era a cena da Tin Pan Alley quando você estava lá?

Todo mundo queria ter um daqueles gênios. Você tinha Carole King e Gerry Goffin, Phil Spector, Jerry Leiber e Mike Stoller, Doc Pomus e Mort Shuman, Barry Man e Cynthia Weil, Neil Sedaka e Howie Greenfield, Jeff Barry e Elli Greenwich, Burt Bacharach e Hal David. Esses caras eram os gênios e todo mundo queria ser como eles e compor tão bem quanto eles. Juntos, eles provavelmente fizeram mais pela música norte-americana contemporânea que qualquer outro. Era isso que se queria lá. Abaixo desse nível havia centenas de escritores - jovens, de meia-idade, velhos e muitos mais de várias idades - todos querendo fazer com que suas músicas fossem ouvidas. Toda essa troca de influências era simplista no início, pois o rock'n'roll era simples. Mas as coisas ficaram mais complicadas quando apareceram caras como Bob Dylan e John Kennedy. De repente, a simplicidade natural da música acabou e ela teve uma oportunidade para crescer e mudada dos Beatles, da invasão total pelas bandas inglesas - as coisas mudaram completamente, pois apenas os autores que tocavam suas próprias músicas tinham chance de fazer com que elas fossem ouvidas. Muita gente perdeu o rumo por alguns anos. Acho que o que me salvou foi que, naquele momento, não tinha nenhum sucesso. Era um desconhecido.

Era difícil compor canções em um cubículo, com outras pessoas fazendo outros sons à sua volta?

É, isso não funcionava mesmo comigo. Sempre tive consciência de que as pessoas estavam ouvindo o que eu fazia. Claro. Agora entendo que elas nem ligavam para o que eu compunha. Então, normalmente eu escrevia em casa, no metrô, em qualquer lugar, até em escritórios. Quando finalmente tive uma chance, arranjei um escritório acima do Birdland (clube de jazz de Nova York). Não era um escritório de verdade. Era uma loja que eu aluguei de uma gráfica. Paguei cerca de 40 dólares por mês. Coloquei uma cadeira, uma mesa e um piano velho. Instalei um telefone. Morei naquele quarto por um ano. E lá - trabalhando pela primeira vez sem especificar sobre o que iria compor, escrevi algumas das melhores canções que já havia feito até então.

Muitas das canções do (álbum) Brill Building foram escritas com parceiros. Por que você não tinha um?

Não tinha um monte de gente batendo na minha porta para trabalhar comigo (risos). Mas, sim, muito do que fiz foi por conta própria. Acho que é parte do que sou.

Você trabalhou na equipe de Leiber e Stoller no início dos anos 60. Que tipo de patrões eram?

Era difícil vê-los. Estavam sempre escrevendo canções vazias. Sempre estavam em suas salas e muito distantes dos compositores. O que eles iriam querer saber sobre um panaca com um violão? Ninguém compunha com violão em Nova York. Só havia compositores de piano. Então, quando entrei com meu violão, era como um caipira, apesar de ter nascido no Brooklyn... recebi alguns trabalhos, mas eles não tiveram final feliz. Atualmente, estou desligado de todos eles, mas não deixam de ser boas lembranças (risos).

O que você acha que se perdeu quando terminou a era do Brill Building?

Bem, teria adorado ouvir mais 10 anos de música criativa dos artistas daquele tempo. Mas não sei se trocaria isso por aquilo que estava por vir.

Por que você pensou em mudar seu nome para Eice Cherry ou Noah Kaminsky?

Enquanto a gravadora fazia minha biografia, pensei que talvez devesse ter um nome diferente. Deveria ser alguma coisa da qual meus netos pudessem rir mais tarde. No último minuto desisti. Então, namorei a idéia de assinar um pseudônimo. Mas, apesar do que falei na época, estou certo de que não teria ido em frente.

Mas você acha que teria feito tudo o que fez como Noah Kaminsky?

Sim, claro. Se Simon and Garfunkel conseguiram, Noah Kaminsky também poderia, não acha? (risos)

Quando você começou a emplacar sucessos, você se sentiu parte da cena do rock?

Eu era, sem sombra de dúvida, o único artista, certamente o único norte- americano, contra grupos. As pessoas não sabiam o que fazer comigo. Havia a cena do LSD em San Francisco, a cena folk em Nova York. Existia todo tipo de música inglesa por todos os lados, e lá estava um cara com um violão e eu realmente não me encaixava no que estava acontecendo no cenário musical. Os críticos e a imprensa não prestavam a menor atenção em mim. Eu fiz um show no Carnegie Hall, uma espécie de vitrine para mim. Não apareceu nenhum jornalista. As pessoas não estavam vendo que existia um cara com violão que, enquanto elas não prestavam atenção, ele emplacava 10 sucessos de uma vez. É como se eu não existisse.

Você certamente estava consciente de que, quando formou o Performers Against Drugs (Artistas Contra as Drogas) e compôs The Pot Smoker's Song, isso não iria resolver o problema.

Sim. Você sabe, uma parte minha é rebelde. E outra parte apenas gostaria de dizer 'ei, vá se foder'. É isso aí. Graças a Deus esse lado não aparece com tanta freqüência. Eu tinha encontrado um pessoal que ia a Phoenix House, em Nova York, para fazer tratamento anti-droga. Fiquei fascinado por isso. Acho que, visto em retrospectiva, o nome era inadequado: The Pot Smoker's Song (A Canção do Maconheiro), pois aquele pessoal não fumava. Eles eram viciados em heroína. Então, para a comunidade hippie, você sabe, ficou evidente que eu não era um deles. A cancão era genuína, tinha alma. Mas ela confirmou, para muita gente, que eu não era hippie.

Houve algum momento em que você achou que não fazia parte do mundo do rock?

Nunca achei que era, portanto, nunca senti que não era. Até recentemente - de fato neste ano - comecei a me perguntar 'sou um roqueiro, ou que diabo eu sou?'

E qual é a resposta?

Bem, a resposta é sim, minha música é baseada no rock. Mas tenho uma intensa atração pela música romântica que veio antes do rock, em parte porque é minha tradição. Mas minha música é baseada no rock. Se Roy Orbison é roqueiro, se Elvis Presley é roqueiro, se os Beatles são roqueiros, então eu também sou roqueiro.

Do que você se lembra do (show) Last Waltz?

Eu me diverti. Não liguei que o meu estilo não era o mesmo que o deles. O que você acha de ser fã e dividir o camarim com pessoas como Bob Dylan e com Robbie e Joni Mitchell? Eles sabiam quem eu era. Eu não era um estranho para eles. Me senti como um velho companheiro... mas eu vi Bob Dylan tocar pela primeira vez ali. Estava bem ao lado do palco quando ele começou a tocar e Bill Graham não conseguiu me tirar de lá. Ele não tinha coragem para isso. Então, pediu para o empresário do show me tirar. O empresário falou para o meu empresário fazer isso. Meu empresário respondeu 'Tira você'. Então, fiquei lá. Antes de Bob entrar no palco, brinquei com ele: 'Se cuida, porque essa é a minha platéia e eu vou dar um tranco nesses caras', sabendo, é claro, que a maioria deles não devia ter a menor idéia de quem eu era. Ele me olhou meio de lado. Mas Bob foi lá e arrasou.

Então, falta de balanço não era problema com outros músicos?

Não, não era. Com outros músicos eu sabia que estava aqui e eles sabiam que eles estavam ali. Aquelas eram as relações mais fáceis que provavelmente eu tive. Porque, olha só a base comum que nós temos. Olha só o que nós vivemos juntos. Nós vivemos e morremos rodeados por arranjos musicais. Talvez como Miles Davis, que disse 'Ei, eu realmente gostei dessa canção', ou Bob Dylan, que me envia sua versão de Sweet Caroline, ou Stevie Wonder, que me diz 'Tenho uma canção que acho que foi feita para você´. Então, isso ajuda um pouquinho a suportar a crítica, pessoas iguais a mim, que me aceitam e me respeitam e isso é suficiente.

Como é escutar pessoas como Dylan, Presley e Sinatra fazendo covers de suas canções?


É demais, porque, você sabe, muita gente coleciona troféus. Outros, selos. Para mim, ver uma dúzia de artistas de quem você realmente gosta gravando uma canção sua é fantástico.

Quais são seus covers favoritos?

Sinatra fez Sweet Caroline com uma banda legal, e ele arrasou com a música, quer dizer, ele simplesmente fez isso melhor que qualquer um, inclusive eu. Adorei. Este é, provavelmente, meu cover favorito. Também adorei a versão do UB40 para Red, Red Wine, que deixou de lado, um pouco, o blues.

E as menos favoritas? Por exemplo, como é ouvir suas canções como musak (música ambiente)?

Musak é... difícil, mas você normalmente não a escuta. Ela não tenta atrair sua atenção. O que é realmente ruim é quando tenta chamar sua atenção e consegue, e isso é de matar. Aí, você tem um problema. Mas as coisas de que eu não gosto? Bem, sim, tem havido alguns trabalhos de que não tenho curtido nos últimos anos, mas como eu poderia me queixar?

Você já ouviu a versão do Deep Purple para Kentucky Woman?

Acho que já ouvi, sim. É um tanto... radical. Eles devem ter mantido algo da melodia original. (risos)

Você sente alguma semelhança com Paul Simon, outro cantor-compositor de Nova York?

Sempre achei que Paul Simon é muito mais intelectual que alguma vez já fui. Eu era apenas um cara emotivo. Mas nossas referências, acho, são semelhantes. Ele começou muito antes que eu, sabia? Ele me perguntou quando apareci pela primeira vez no Dick Clark's Show, e eu falei 1966, quando, com ele, aconteceu em 1956 ou 1958. Ele devia ter apenas 12 anos naquela época. Então, ele sempre esteve à minha frente na escala evolucionária. Ele também é um talentoso violonista, coisa que não sou. Paul Simon é um padrão de excelência, sabia?

Você e Simon and Garfunkel disputavam a mesma platéia?

Não. O público deles sempre foi mais intelectual, liberal. Muito mais agitado. Porém, naquela época o público de todo mundo era muito mais agitado que o meu. O que posso dizer? Estava separado do resto dos Estados Unidos. (risos)

Você já se ressentiu por ter sido deixado de lado por outros da linha soft rock, como Barry Manilow ou Kenny Rogers?

Não, realmente não.

Você acha que se encaixa nessa categoria?

Eu não. Acho que é algo que foi criado sobre minha pessoa. Mas tem algo legal em ser deixado de lado. Isso nunca me aconteceu. Sempre me senti um tanto solitário por ser como sou. Eu era um cantor solo em um mar de grupos. Elton John foi o primeiro de que me lembro. Até então, eu era completamente sozinho. Depois disso teve John Denver e... talvez Barry Manilow? Para rapazes cantores é muito solitário lá fora. Portanto, estou contente em ver que outro cara solitário está chegando e segurando a barra enquanto estou por aqui. (risos)

O que você pensa quando as pessoas rotulam você como comercial?

Bem... quando escuto a palavra comercial é como se fosse um musical da Broadway. Tudo é como uma máquina que funciona perfeitamente. Isso pode ser muito chato depois de um tempo. Acho que, se fosse comercial, não poderia fazer isso por 20 anos. Existe algo que é um elemento desconhecido. Algo que faz esta noite ou este disco diferentes dos demais. Sim, algo profissional. Extraordinariamente particular, sim... intenso, sério, focado, supertrabalhado, sim. Comercial? Não vejo dessa forma. Não é minha praia falar que minhas coisas são brilhantes ou uma droga. Porque eu sei que uma coisa pode ser brilhante ou uma droga. Eu tenho seguido por um caminho tortuoso ao longo dos anos. Desde Cherry Cherry a The African Trilogy, passando por Jonathan Livingston Seagull e America tenho seguido por um estranho caminho. Ele não faz muito sentido, mas, no final, é o meu caminho. Acho que provavelmente teria ficado maluco se tivesse levado tudo a sério. Certamente não seria esse o meu caminho hoje, pois todos me diziam para cair fora do negócio assim que comecei.

Você acha que nasceu para se apresentar nos palcos?

Não, acho que fui meio jogado nessa história. Você grava um sucesso e não pode parar. É melhor mostrar a cara. Então eu fui ao Village e comprei o que achava mais apropriado para me apresentar no palco, que era um casaco com bolinhas e uma gravata (risos). Também tinha meu violão Everly Brothers. Coloquei um conjunto novo de cordas para se adaptar à banda. Caí na estrada e fiz.

Por que o homem que compôs Forever in Blue Jeans vai para o palco com esses trajes espalhafatosos e lantejoulas?

Não eram lantejoulas.

Não eram lantejoulas?

Não, aquilo eram contas de vidro. Tem uma grande diferença (risos). Bem, eu adoro ficar resplandecente no palco. Não costumo ser muito vistoso fora dele, então, é minha única chance de ficar assim. Além disso, é legal para o público, que fica sabendo, mais ou menos, onde você está.

Quando você escrevia uma canção como Sweet Caroline ou Song Sung Blues, havia um reconhecimento de que você estava compondo um referencial na música pop?

Sabia que adorava aquelas músicas. Mas quando as estava compondo, não achava que elas se tornariam um sucesso. Isso é curioso. Song Sung Blues era minha segunda opção de disco compacto para aquele álbum. Então, Russ (Reagan, do selo Uni) disse, 'Não. Song Sung Blues. Ela vai ser sua melhor música'. Quer dizer, a música tem dois versos; eu nunca fiquei tentando fazer uma ponte entre eles. E embora a letra diga tudo o que eu quero dizer, não tem muito significado. Mas ela se tornou a minha música de maior vendagem.

Qual canção demorou mais para ser feita?

I Am... I Said. Demorou cerca de quatro meses, todos os dias, o dia inteiro. Eu ia para o meu quarto, trancava a porta e brigava com essa canção. O parto terminou durante um teste para um filme que seria mostrado no Lenny Bruce's Show. Sempre que tinha gravação pela manhã, me trancava no quarto no almoço. Estava mesmo deprimido, porque sabia que tinha feito um trabalho horrível. Lá estava meu violão e comecei a tocar essa coisa, a qual, 15 minutos depois, já tinha título. Havia alguns elementos dos quais gostei muito. Brigava com isso todos os dias. Era como uma pessoa que não se submete. Cheguei o mais perto que pude.

E qual é a canção da qual você se orgulha mais?

De novo, America. Muita gente se mudou para cá e se ligou na música. Houve grupos que se interessaram em adotá-la. Muitos dos estrangeiros e pessoas de outros países sabiam quem eu era e achavam que eu era um superastro. Eles viram o filme The Jazz Singer e adoraram. Era a história deles, a história do imigrante. Isso me agradou muito, pois tive muita exposição. Não apenas quando se tornou um sucesso, ou devido ao filme, mas em muitas outras situações. Como quando os reféns deixaram a embaixada no Irã e voltaram para casa. No noticiário daquela noite eles tocaram (começa a cantar) 'They're coming to America (eles estão vindo para América)'. E as pessoas cantaram em frente à Estátua da Liberdade, durante seu 100o aniversário, sabia? Estavam se movendo e... congelando (risos). Foi o dia mais frio do ano em Nova York. E no tributo a Martin Luther King e na recepção aos Veteranos do Vietnã - todos eles me pediram para comparecer e cantar America. Uma companhia de seguros fez uma pesquisa séria sobre isso e minha canção America foi a mais reconhecida música sobre a América - mais que God Bless America. E ela foi tão fácil de fazer porque tem tanto a ver comigo, sabia? Só tive que falar por mim. Só tive que falar pelo meu povo.

Quando você fala 'meu povo', me faz pensar se houve alguma preocupação sobre The Jazz Singer não ser um bom filme para sua carreira, por que era 'muito judeu'?

Claro. Tinha esse medo porque a maior parte do mundo não é judia. Percebi isso (risos). E as pessoas têm diferentes preconceitos contra o povo judeu. Muitos deles eu não entendo, outros eu entendo. Todos eles magoam. Por isso tinha uma responsabilidade em relação àquele filme. Primeiro, ser tenso o suficiente para interpretar meio que um oposto ao herói do oeste, que era meu papel, ao contrário do cara ligado em ficção científica, que foi minha proposta. E eu era muito protetor a respeito de como esse personagem deveria ser. A única discussão que tive com (Laurence) Olivier foi sobre uma das falas que eu quis trocar. Nesta cena, seu personagem - meu pai - está falando que eu tenho que ficar e ser um cantor. E meu personagem deveria ter dito 'não, tenho que sair e fazer minha vida, ganhar dinheiro'. Aí, eu disse: 'Não posso falar isso. Esse personagem não está fazendo música por dinheiro. E Neil Diamond não está fazendo musica por dinheiro e nunca fez'. Então, Olivier disse, 'Bem, eu trabalhei quando era mais jovem e tentei ganhar dinheiro'. Bem, ele não é judeu, então, como poderia entender minha sensibilidade por ter uma vida inteira correndo atrás de dinheiro? A coisa mais estúpida no mundo que alguém pode pensar é tentar fazer dinheiro com música, porque isso não acontece assim. Apenas acontece por acidente. Portanto, mudei a fala.

É verdade que quando você foi à Casa Branca jantar com a princesa Diana e com o príncipe Charles, alguns anos atrás, você descobriu que os Fuzileiros Navais têm mais de uma dúzia de canções suas no repertório?


Eu não sabia. Deveria ter me tocado quando fiz minha entrada no salão, porque havia um quarteto de cordas tocando Song Sung Blues. E o secretário da senhora Reagan veio e me levou até ela, que estava dançando com o marido naquele momento. Ela o deixou que nem um bobo (risos). Ela veio diretamente para mim e achei que estava perdido. 'Meu Deus, senhora, é o presidente'. Ela falou 'Você cantaria para a princesa?' E eu respondi, 'Adoraria, mas não ensaiei com a orquestra'. E ela falou, 'Venha comigo' e me levou para o maestro. Ele abriu as partituras e me mostrou uma lista de 15 ou 20 de minhas canções que tinham sido orquestradas com minhas indicações. Com minhas indicações! Então, falei, 'Ok, vou cantar esta e aquela'. E os caras tocaram que foi uma maravilha.

Você está otimista quanto ao futuro do rock?

A Sony está quase pagando 2 bilhões de dólares por um pedaço do rock, sabia? Você é quem me diz se o rock está com problemas...

E você está se acostumando a ser um artista da Sony?

Bem, a carta que recebemos do presidente da Sony que falava que os artistas teriam que fazer exercícios de manhã antes de ir ao estúdio causou um pequeno terremoto (risos). Acho que está legal estar na Sony. Se tivesse 2 bilhões de dólares, eu mesmo teria feito negócio.

Então, após esse tempo, quem é o fã comum de Neil Diamond?

Meus fãs são acima da média (sorriso). Quando você faz tantas canções por tantos anos, uma delas conseguiu atrair alguém. Se você não gostou de pelo menos uma canção, provavelmente vou me enforcar. Venho tentando por duas décadas fazer com que todos gostem de, pelo menos, uma canção. E não consegui isso até agora. Então, vou passar os próximos 20 anos tentando fazer isso.

Copyrigths The Rolling Stone Magazine 1988.